quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Epifanias de uma casquinha de sorvete

Não gosto do verão. O mormaço, a luz amarela de sol forte batendo nos olhos e principalmente minha capacidade de suar o bigode com uma simples caminhada de 20 minutos. Se a temperatura ultrapassa os 25 graus, meu humor fica abaixo de zero.

Caminhar até o metrô depois do trabalho é um alivio! Poder sentir o vento fresco do anoitecer, esticar as pernas, respirar os resquícios de ar puro produzidos pelas árvores da Fradique Coutinho no meio de toda poluição urbana.

Melhor ainda é encontrar uma sorveteria no caminho.

Sorvetes fazem o verão valer a pena. Sorvetes fazem a vida valer a pena. Meu instinto gordinho avisou, desde o primeiro dia na região, que algo muito especial se encontrava naquela sorveteria. Um dia escaldante seria o momento ideal para tirar a prova. 

Entrei. Oito reais uma casquinha com duas bolas. Justo, diria até barato, já que costumo pagar 13 em um micro copo de Bacio di Latte. Escolhi “menta com chocolate” e “pão de mel”. A primeira colherada me mostrou como deve ser o paraíso.

Não pude ficar muito tempo na sorveteria, apreciando lentamente aquele momento de paz de espírito e satisfação, pois queria chegar o mais rápido possível em casa. Peguei meu rumo com a casquina na mão, o sorvete escorrendo pelo braço, pessoas me olhando torto por esse motivo e um milhão de pensamentos decorrentes da situação.

Fazia anos que não tomava sorvete daquela forma grotesca. Não sentia nenhum tipo de incomodo ou constrangimento, ao contrário, estava naqueles momentos incríveis em que se vive apenas o presente. Pensei em quantas coisas simples, alegres e grotescas deixei de fazer temendo possíveis julgamentos.

Por fim, fiquei feliz. Talvez depois de quase 22 anos de insegurança consegui finalmente aprender a cagar para certas condutas sociais. Aliás, todos deveriam experimentar uma vez na vida: esse sorvete e a liberdade.

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Não deu tempo de tirar foto do sorvete, mas no vídeo abaixo a Jout Jout maravilhosa também fala sobre a sensação libertadora de ~desencanar~.

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